sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Mafalda e a sopa

Por Mariana Clark


       Quino, desenhista e escritor argentino, é o criador das tirinhas da turma da Mafalda. Muito popular, as tirinhas da Mafalda são usadas para os mais diversos fins e reconhecidas por sua perspicácia em falar de assuntos tão atuais e de maneira única. O que muitos não sabem é que Mafalda e sua turma pertencem a décadas passadas e têm uma história interessante e que impressiona por conseguir ser tão atual.
        As histórias de Mafalda datam do período concebido entre 1964 e 1973 e que se constitui como um período importante se entendermos o contexto político da Argentina na época da criação de Mafalda. A turma da Mafalda é formada pelos pais da menina, seu irmão mais novo, Guille, Filipe, Manolito, Susanita, Miguelito e alguns personagens sazonais. É interessante pensar que, naquela época, cercado por grandes represálias políticas e ideológicas, Quino conseguiu expressar e espalhar sua aguçada crítica sobre o que ali acontecia através de suas personagens e uma recorrente referência à figura do Globo Mundial. Há uma característica intensa em Mafalda que é o repúdio à sopa que sua mãe, que representava uma figura de autoridade, insistia em fazê-la comer para o seu "próprio bem". Em entrevistas posteriores, Quino nos ajudou a entender que a figura da sopa dada por uma autoridade, a despeito da vontade do povo, era uma figura que representava a repressão, o repúdio ao governo vigente (daí a figura de autoridade materna). Quando Mafalda dizia da sopa, então, era uma analogia contra tudo que era imposto sem negociações.
             Também em sua turma, Quino cuidou de maneira peculiar da construção das personagens que têm, todas, relação com suas críticas a respeito do rumo do mundo. Manolito e sua maneira de ver a vida como um comércio, Susanita com seus ideais tidos como fúteis, Filipe e sua briga com sua consciência e o que lhe é imposto e assim a história se segue. Com bastante humor e sacadas geniais, a turma da Mafalda ganhou a América Latina e a Europa, gozando, hoje, de enorme fama. Porém, é bastante interessante entendermos o que vai para além do óbvio das tirinhas. O que Quino tão genialmente criou para ser um instrumento que nos ajude a pensar. Como toda boa literatura e, neste sentido, Quino também é um escritor, dela podemos nos aproveitar para sermos mais críticos em relação ao mundo e avançarmos. Vale a pena dizer que uma personagem que por tanto tempo viveu nessa "clandestinidade" ideológica, hoje conta com uma praça e estátua em seu nome, em Buenos Aires. Afinal, também de evoluções chegamos até aqui.




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