Por Mariana Clark
Quino, desenhista e escritor argentino, é o
criador das tirinhas da turma da Mafalda. Muito popular, as tirinhas da Mafalda
são usadas para os mais diversos fins e reconhecidas por sua perspicácia em
falar de assuntos tão atuais e de maneira única. O que muitos não sabem é que
Mafalda e sua turma pertencem a décadas passadas e têm uma história
interessante e que impressiona por conseguir ser tão atual.
As histórias de Mafalda datam do período concebido
entre 1964 e 1973 e que se constitui como um período importante se entendermos
o contexto político da Argentina na época da criação de Mafalda. A turma da
Mafalda é formada pelos pais da menina, seu irmão mais novo, Guille, Filipe,
Manolito, Susanita, Miguelito e alguns personagens sazonais. É interessante
pensar que, naquela época, cercado por grandes represálias políticas e
ideológicas, Quino conseguiu expressar e espalhar sua aguçada crítica sobre o
que ali acontecia através de suas personagens e uma recorrente referência à
figura do Globo Mundial. Há uma característica intensa em Mafalda que é o
repúdio à sopa que sua mãe, que representava uma figura de autoridade, insistia
em fazê-la comer para o seu "próprio bem". Em entrevistas
posteriores, Quino nos ajudou a entender que a figura da sopa dada por uma
autoridade, a despeito da vontade do povo, era uma figura que representava a
repressão, o repúdio ao governo vigente (daí a figura de autoridade materna).
Quando Mafalda dizia da sopa, então, era uma analogia contra tudo que era
imposto sem negociações.
Também em sua turma, Quino
cuidou de maneira peculiar da construção das personagens que têm, todas,
relação com suas críticas a respeito do rumo do mundo. Manolito e sua maneira
de ver a vida como um comércio, Susanita com seus ideais tidos como fúteis,
Filipe e sua briga com sua consciência e o que lhe é imposto e assim a história
se segue. Com bastante humor e sacadas geniais, a turma da Mafalda ganhou a
América Latina e a Europa, gozando, hoje, de enorme fama. Porém, é bastante
interessante entendermos o que vai para além do óbvio das tirinhas. O que Quino
tão genialmente criou para ser um instrumento que nos ajude a pensar. Como toda
boa literatura e, neste sentido, Quino também é um escritor, dela podemos nos
aproveitar para sermos mais críticos em relação ao mundo e avançarmos. Vale a
pena dizer que uma personagem que por tanto tempo viveu nessa
"clandestinidade" ideológica, hoje conta com uma praça e estátua em
seu nome, em Buenos Aires. Afinal, também de evoluções chegamos até aqui.
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